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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O desabafo de uma evangélica sufocada

Como é um desabafo, não tem introdução.
Não acredito que termos mais deputados, senadores (ou até presidente) cristãos se traduza, automaticamente, em um Brasil mais justo ou, digamos, menos iníquo. Acredito que isso acontecerá quando cada cristão viver o que Cristo prega no seu dia a dia. Como também não acredito que a transformação que ansiamos ver na sociedade brasileira venha através da política institucionalizada.
Pela minha visão de política, não é a existência ou não de leis que mudam a realidade vivida pelos indivíduos. É só pensar em quantas coisas são proibidas por lei e fazem parte da prática dos brasileiros - desde o aborto até ao trocadinho para o guarda. 
Pela minha visão de evangelho, a simples mensagem da cruz, de um perdão que não merecemos, vivida e compartilhada, tem o poder de transformação que nenhuma política institucional tem. Quando cada cristão, amar seu próximo (desde seu irmão da igreja até ao travesti), o mundo poderá ver Cristo em nós. E acredito que essa transformação será mais verdadeira, mais consistente. Alguém alguma vez já disse não estar em busca de uma transformação que venha de cima, mas uma transformação de corações. É nisso que acredito.
Não sou contra cristãos na política, nem contra evangélico ser presidente. Voto #Marina40 não porque é evangélica, mas porque é coerente, sensata e compartilho dos seus posicionamentos políticos. Porque quando ela estiver lá, ela será presidenta, não pastora. E será presidenta de evangélicos, budistas, ateus, umbandistas e hare krishnas rs!
Tenho certeza que muitos dos que lerão esse desabafo não curtirão, nem comentarão porque nosso pensamento tem funcionado assim: Falou contra aborto e casamento homossexual tem meu like, meu voto, minha consciência! Não falou, deixou dúvida: pode ser meu inimigo.
Essa situação chegou a tal ponto que quando alguém diz: "sou a favor da família tradicional e levem esses homossexuais pra bem longe de mim!" o povo aplaude! É como se "sou a favor da família tradicional" fosse a senha secreta para se aceitar qualquer coisa que venha depois!
Gente, vamos PENSAR um pouco. É isso mesmo que queremos? "Família tradicional" a qualquer custo? Até mesmo ao custo do segundo mandamento mais importante que Cristo nos deixou? O que é mais importante? Não acho que tenho a verdade final, nem que MEU posicionamento pessoal deva ser o de todos os cristãos, mas acho que a gente precisa parar e pensar: estamos em busca de quê? Eu não sei. Estou confusa...
Acho que devemos lutar por leis que achamos justas, sim. Contra o aborto? que o seja. Contra o casamento homossexual? ok! Estamos numa democracia e as coisas funcionam assim mesmo, na disputa de interesses diversos. O problema é que às vezes tenho a sensação de que isso se transformou numa outra coisa, numa espécie de Guerra Santa, numa disputa cega e burra: cristãos de um lado e homossexuais (e Luciana Genro hehe) do outro. Aí eu penso: Tá bom. E se vencermos? O que vamos ganhar? Eu não sei... Leis que impeçam o aborto, que mulheres continuarão fazendo? Leis que proíbam a união de homossexuais que continuarão se unindo? Eu não sei se vale a pena, sinceramente. Porque não é essa a transformação que busco... Mas também não acho que devemos nos calar e aceitar qualquer lei! Não, não é isso. Só temo que no meio disso tudo estejamos perdendo o amor...
Eu não tenho a fórmula pra isso, vou procurando votar em partidos/ pessoas que tem convicções semelhantes às minhas. Não voto em quem é a favor do aborto, porque não sou. Mas também não voto em quem prefere ver homossexual morto do que casado, porque não prefiro.