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quinta-feira, 12 de maio de 2016

uma nova história


"Mulher, onde estão aqueles que te acusam?
Nem eu te condeno. Vá e não peques mais." - Jo 8.10,11

 Gostaria de ver o que essa mulher fez em seguida, saber quais foram seus pensamentos... Ela deve ter saído dali meio atordoada, afinal, quase fora apedrejada! Deve ter ficado um tempo tentando entender o que havia acontecido, deve ter levado um tempo até cair a ficha... E quando ela caiu, ela deve ter chorado... Sim, ela chorou. Chorou um choro diferente, que a lavou de dentro pra fora... Nesse choro tinham raivas, arrependimentos, renúncias, sonhos ressuscitando, feridas sendo tratadas, uma nova imagem de si mesma estava nascendo... Ela percebeu que alguém (finalmente!) havia enxergado ela por dentro, além de toda capa exterior. Alguém viu que ela não era perfeita, mas a amou. Nesse momento, ela foi inundada por um prazer, uma alegria, uma satisfação que ela nunca havia sentido. Era a alegria de ser amada sem merecer, de graça, um favor que ela não merecia. Nesse momento, ela tem vontade de rir e chorar ao mesmo tempo... Se sente meio louca, mas deixa... Dá vazão... Afinal, esse dia não está muito normal mesmo. Ela chora, ri, e se inunda de alegria, de amor... Ela se deixa levar, se deixa ser perdoada, aceita ser amada por um homem que não quer seu corpo, que nem olha pra ela direito, que não está interessado na sua aparência... Nesse momento ela olha pra si mesma e percebe o quão está suja e decide tomar banho. Mas esse banho não vai lavar apenas a poeira daquele chão onde a jogaram pra ser apedrejada, esse banho lava a sujeira do pecado cometido. Nessa água que vai escorrendo também está indo uma vida antiga, suja e rejeitada, está nascendo uma nova mulher. Quando ela vai se vestir, precisa procurar uma roupa diferente das que vem usando ultimamente... Precisa revirar suas roupas e encontra, lá no fundo, as roupas que usava quando ainda se amava. E é uma dessas que ela coloca agora. As outras, que usava pra disfarçar suas tristezas, que usava para atrair olhares, ela junta tudo e quer jogar fora... Ela não precisa mais dessas. Também não sente necessidade de passar lápis nos olhos, não sente necessidade do vermelho nos lábios... Ela quer sair assim, de cara lavada, porque sua alma está lavada. Ela quer jogar tudo isso fora, junto com todos os presentes que recebeu dos homens com os quais se evolvera. Começa a recolher, um por um: colares, brincos, perfumes.... E ela quer jogar tudo fora... Ela vai recolhendo, coisa por coisa, e encontra um vaso de perfume, muito caro. Esse não foi presente. Ela havia guardado muito dinheiro e ela mesmo comprou. Ela mesma deu pra si. Afinal, ela merecia. Ela comprou aquele vaso pra mostrar pra si mesma que conseguia, que podia ter do melhor, que podia conseguir, que não precisava de homem nenhum, que ela conseguia. Ela olha pra esse vaso e seu coração aperta. Ele ainda tem valor, mas parece que não deveria ter. Ela não entende o que está sentindo... Ela pensa que talvez seja melhor jogar ele fora também, mas ela não consegue. Ele é importante... Ele não é como os outros presentes. Nesse vaso parece que não tem apenas nardo puro. Tem seu orgulho, sua força.... Parece que esse vaso guarda todo seu esforço, toda sua luta... E jogar ele fora parece que é se desfazer de si mesma, de quem ela é... Mas ela sente que ele não pertence a essa vida nova que está nascendo e coloca ele junto com tudo que vai pro lixo.
E vai pra rua. Vai jogar fora a vida velha porque ela quer viver a vida nova. Quer jogar fora a vida de amantes porque agora ela é amada (hahaha - parece mesmo que sua alma sorriu). Ela vai, e tem prazer de jogar um por um no lixo, mas, quando chega no vaso de alabastro, que havia ficado por último, ela não consegue... Ela decide, então, dar pra alguém. Dar de presente, afinal, é algo muito valioso pra ir pro lixo. Ela segue caminhando, procurando alguém para dar aquele presente tão valioso... E, enquanto passa pela rua, olha pela janela de uma casa, meio sem querer, e vê Ele. Seu corpo gela e aquece ao mesmo tempo. Ela não pode acreditar que é Ele. Ele está sorrindo, conversando com outros homens e, quando ela percebe, ela está parada na janela, observando... Ela quer ir lá, agradecer, olhar mais de perto, só estar, mas não pode, não foi convidada... E ali estão alguns homens que ela reconhece, reconhece da sua vida antiga, e eles não vão permitir que ela entre ali. Ela tenta ir embora, mas não consegue... Ela quer estar perto dele mais uma vez... Eles estão se preparando para jantar... E se expulsarem ela? E se ameaçarem apedrejá-la novamente? E se, agora, eles se sentirem seguros pra atirarem a primeira pedra? Não, acho melhor ir embora... Mas ela não quer ir embora e, quando vê, já está na porta de entrada. Ela não bate, não pede licença, ela entra. Agora ela está diante deles, eles estão à mesa, seu coração está batendo forte, ela está ali parada e, de repente, ela vê os pés dele... Aqueles pés eram a única visão que ela tinha enquanto estava ali no chão, tremendo, esperando a primeira pedrada. Ah, aqueles pés...! Aqueles eram os pés do perdão, do amor, da aceitação... Ela precisa estar mais perto daqueles pés. Mas dessa vez ninguém a jogou ali, ela se ajoelha e toca neles... Mais uma vez aquele choro a invade... Mas agora, um choro de gratidão... Parece que todo aquele amor que a inundou agora está transbordando e ela deixa jorrar... Ela não apenas toca, mas começa a beijar aqueles pés... Agora ela não tem mais medo, ela sabe que ninguém pode lhe fazer mal, ela encontrou abrigo ali, aos pés. Ela percebe então que os pés dele estão encharcados de lágrimas, saliva, e fica nervosa, não quer que ele tire os pés dali, não quer que ele se chateie com ela... Mas ela não tem nada às mãos... Mas ela tem seus cabelos... Os cabelos que ela prendera gentilmente num coque, que, pra Ele, ela desfaz. Ela desenrola seus cabelos e começa a enxugar aqueles pés. Ela enxuga... E enquanto enxuga seus olhos passam, sem querer (e ela realmente não queria) seus olhos passam pelo vaso de alabastro que ela deixou ali quando se ajoelhou. Ela pensa que poderia dar pra ele. Mas ela não quer... Ela já se humilhou tanto, ela já está ajoelhada, todos estão olhando pra ela... Mas não importa! Esses pés merecem tudo. Esses pés, que ela olhava à beira da morte, ela agora quer perfumar, quer que o seu melhor esteja sobre eles... Ela quebra o vaso, e um perfume delicioso invade todo o ambiente. Ela derrama aquele líquido precioso sobre aqueles pés... Precioso não apenas porque levou todas as suas economias. Naquele líquido que está sendo derramado também o seu orgulho, sua autossuficiência... Todo seu eu antigo, tudo que ela levava como valor próprio, ela derrama naqueles pés. Quando o líquido acaba, quando ela termina de derramar tudo, ela sente que está completa. Que incoerente, ela pensa. Eu não tenho mais nada e parece que tenho tudo! Eu nunca me humilhei tanto e nunca me senti tão honrada! Ela se levanta. Aqueles homens olhando pra ela... Ela sabe bem o que estão pensando, mas não importa. Ela sabe o que o dono daqueles pés pensa sobre ela e é isso que ela vai pensar também. E ela simplesmente sai. Nova. Renovada. Perdoada. Sai lavada, transformada, digna. E o que ela vai fazer agora? Ela vai viver!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Assumindo fraquezas - Lc 22.31

Pedro achava que estava pronto. A imagem que tinha de si mesmo era de um homem que não cairia, que nunca negaria Jesus... Pedro realmente achava que estava disposto a morrer por Cristo.
Talvez, por causa das experiências que tivera com Cristo. Ele viu Jesus fazer tantos milagres, ouviu as palavras poderosas e cheias de sabedoria, e pensou: Eu jamais abandono esse cara!
Talvez, pelas revelações que já tinha recebido, pelos milagres que ele próprio operara. Já tinha expulsado demônios, curado enfermos, e pensou: Eu já estou tão envolvido que até morro por essa causa!
Ele realmente achava que estava pronto, maduro, forte, convicto o suficiente pra enfrentar a morte. Mas não estava.
Eu também. Também já vivi muitas coisas com Cristo. Já o vi libertar poderosamente muitas vidas, inclusive a minha mesma. Já experimentei do seu poder. Já tive revelações poderosas. Já fui um instrumento poderoso e pensei: já estou num nível, num patamar em que não caio mais. Enfrento qualquer coisa por essa causa, pelo Reino. Mas, assim como Pedro, eu estava errada.
Por mais que estejamos nos sentindo preparados, fortes, dispostos mesmos a enfrentar a morte, nunca saberemos até estar diante dela.
Hoje o aviso que Jesus deu a Pedro acendeu um luz de alerta para mim: "não pense de si mesmo além do que convém" (Rm 12.3). Não pense que você é melhor do que realmente é.
É, eu não sou. Gostaria de ser daquelas que enfrentam tudo e permanecem inabaláveis, mas me abalo com facilidade. Gostaria de passar pelas lutas e adversidades com alegria, mas a tristeza me domina frequentemente. Gostaria de ser um exemplo de superação e força, mas tenho me sentido muito, muito fraca. Gostaria de ser aquela que enfrenta a morte com coragem, mas é possível que eu seja a primeira a correr quando ela chegar. Gostaria de ser melhor do que sou, porque sinto que tenho falhado em ser exemplo em muitas coisas.

Ser exemplo, ser forte, ser amorosa e exigente na hora certa, estar sempre pronta pra dar uma palavra de incentivo, quando eu mesma preciso de uma, tem sido um fardo pesado. Hoje decido trocar esse pelo de Jesus, que é leve. Não sou tudo o que deveria ser, nem tudo o que esperam que eu seja. Admito minhas fraquezas e sigo, confiante no Seu amor, que encobre multidão de pecados. Que o Seu poder se aperfeiçoe em mim.