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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Não tenho mais os pés de Jesus para ungir - Mc 14.6-8


Essa passagem é muito conhecida de todxs nós. Uma mulher pecadora chega onde não foi convidada e, num ato de adoração extravagante, se derrama aos pés de Jesus. E ali, aos pés dele, ela derrama suas lágrimas e seu perfume caro, sua riqueza. Os discípulos e outros que estão com Jesus a criticam no seu íntimo, afinal, ela não havia sido convidada... Ela era uma mulher... Ela era pecadora... Ela desperdiçava o que poderia ser gasto com os pobres... Ela era inconveniente.

Sempre admirei essa mulher e sempre fui muito edificada por essa passagem. Foi através dessa passagem que, pela primeira vez, fui desafiada a me despir de pecados ocultos. Foi através dessa palavra que me vi desafiada a me derramar completamente aos pés de Jesus. Foi através dessa palavra, num momento pessoal de adoração, que me vi chamada a andar junto com os pastores responsáveis por conduzir a adoração na minha igreja - posição essa que hoje eu e meu esposo ocupamos. Essa passagem sempre foi muito importante na minha caminhada cristã.

Hoje, uns dez anos após meu primeiro contato marcante com essa passagem, me encontro diante dela novamente. Mas ela não parece a mesma. Apesar de me inspirar as mesmas coisas que antes, parece me mostrar um caminho diferente para alcança-las. E isso por um simples motivo - eu não tenho mais os pés de Jesus para ungir! Na verdade, nunca tive. Mas sempre procurei viver essa mensagem como se tivesse Jesus aqui para ter seus pés lavados pelas minhas lágrimas. Mas não tenho. Tudo o que tenho hoje são os pobres.

Derramar suas lágrimas e sua riqueza aos pés de Jesus foi louvável, foi digno de honra, justamente porque ter o corpo dele ali era temporário. Jesus disse: "Ela fez para mim uma coisa muito boa. Pois os pobres estarão sempre com vocês e, em qualquer ocasião que vocês quiserem, poderão ajuda-los. Mas eu não estarei sempre com vocês" (vs. 6,7 - NTLH).

Não tenho mais os pés de Jesus para derramar lágrimas e riquezas. Mas tenho os pobres. Aquela mulher fez o que deveria fazer naquele momento. Priorizou o que deveria ser priorizado. Hoje sou inspirada a fazer o mesmo. Ainda sou inspirada a ser uma adoradora extravagante, mas o caminho não me parece mais ser o mesmo... Não me parece que seja chorar num momento de adoração e intimidade, pela presença sensível do Espírito Santo... Pelo menos, não apenas. O caminho que tem se apresentado para viver essa mensagem são os pobres. Afinal, eles estão aí! E não apenas os pobres pela ausência de dinheiro, mas pela ausência de atenção, de cuidado, de misericórdia, de esperança... Eles continuam aí.

E hoje, diferente de todas as outras vezes que li essa passagem, me parece que o melhor caminho de vive-la não seja me ajoelhar... Até me ajoelho, em oração, derramo minhas lágrimas em favor dos pobres. Mas, em seguida, preciso me levantar, porque também preciso derramar minhas riquezas. Meus talentos, dons e bens, devem ser derramados em favor deles.

Acho que percebo, enfim, que posso viver o que aquela pecadora viveu com apenas uma diferença: não toco Jesus fisicamente. Toco Jesus apenas quando consigo tocar os pobres.


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