Está chegando
o momento em que deixaremos de ser um. Até aqui temos compartilhado
absolutamente tudo. Não é possível dizer o que é meu e o que é seu. Não é
possível marcar os limites de onde termina o que sou e começa o que você é...
Por aproximadamente 276 dias temos sido assim, mais que unha e carne - temos
sido um só pulsar, um só sentir... Quem olha pra mim vê você.
E eu já sabia
que seria assim. Você, no entanto, nada sabia. Não era, ainda. Você era apenas
uma ideia, uma possibilidade, um talvez.... Quem sabe? Mas você se tornou real.
Não sei te dizer o dia exato que você surgiu, como uma sementinha dentro de
mim, mas lembro perfeitamente o dia, a hora, a situação em que soube que você
já estava aqui. Porque esse dia mudou a minha vida. Pra sempre!
Eu sabia que
durante esse tempo seríamos um só. Mas eu não poderia imaginar como seria. As
pessoas contam muitas histórias sobre esse momento, sabe? Mas viver a nossa
história não se compara a nenhuma outra que tenha sido só ouvida.
O dia 27 de
dezembro de 2014 marcou o início de nossas experiências juntos; conscientemente
juntos. Experiências no corpo e na alma.
No corpo, não
existe nada que possa se comparar a ter compartilhado dele com você. Você
chegou de mansinho, às vezes até duvidavam se você estava aqui mesmo ou não.
Demorou pra aparecer. Mas, de repente, você ficou todo espaçoso! E nada quieto!
A primeira vez que senti você, fiquei como uma boba, paralisada, como uma
estátua com um sorriso bobo no rosto. Não demorou muito para que outras pessoas
pudessem não apenas sentir, mas também ver seus movimentos. E até agora, me
delicio com todos eles (exceto com uma certa esticada de pernas - ou braços,
não sei - que já me fez parar na emergência!). Agora, já no finalzinho, todos
se surpreendem com o quanto meu corpo se expandiu pra ter você aqui. Você já é um garotão :)
Apesar de as
mudanças do corpo serem as mais evidentes, as da alma foram sem dúvida as mais
profundas. Ninguém pode ver o quanto meu coração se expandiu pra comportar você
aqui. Você me fez (e faz!) crescer muito mais por dentro do que por fora. Muito
mais o coração que a barriga. Foi (e tem sido) tão graciosa a sensação de que
não caibo mais em mim mesma. É como se você tivesse vindo e me mostrasse o quão
pequena eu sou. Porque é tanto amor que, de repente, fiquei pequena demais, e
foi preciso transbordar! Transbordo primeiro em você, mas não apenas.
Transbordo sobre mim mesma também, mas de uma maneira que não é egoísta, que é
necessária. Necessária pra entender e ser ainda mais capaz de transbordar pra
outros.
Você trouxe,
mais que uma capacidade, uma necessidade de derramar isso que não cabe mais
dentro de mim. Acho que antes eu tinha a sensação de que precisava guardar
esses sentimentos (tão bons, tão divinos), como se eles fossem se esgotar e eu
própria fosse ficar sem eles. Mas, quando descobri você aqui, tive que deixar
ir um pouco dele pra você. E, quando fiz isso, descobri que quanto mais deixo
ir, mais brota e mais quero deixar ir. Não que eu nunca tivesse sentido isso...
Mas é que agora é mais forte, mais volumoso, mais necessário. Como um rio que
ganha volume e precisa abrir caminho simplesmente pra continuar a correr.
Você me
mostrou que minha vida não pertence só a mim. Não é pra mim. Foi transformador
descobrir o quão belo é o compartilhar. Compartilhando meu corpo com você
percebi que essa necessidade que temos de dizer "é meu!" é tão
superficial, tão boba... Melhor é dar do que receber. Você tomou espaço de mim,
dentro de mim, e isso não me fez ficar menor. Da mesma maneira, descobri que
posso deixar outros entrarem, tomarem espaço, e só tenho a crescer com isso!
Mas você não
me fez ver apenas coisas boas em mim. Você também me mostrou sentimentos,
atitudes, que não gostei de ver que tenho. Mas isso também foi muito bom!
Porque, mesmo eu sendo assim, com tantas imperfeições, Deus me deu a graça de
ter você aqui dentro! Posso olhar com mais compaixão e menos julgamento as
imperfeições dos outros. Eles também, mesmo sendo imperfeitos, podem ter feitos
maravilhosos, milagrosos!
Vivemos tanto
juntos. Foram uns 9 meses bem intensos. Muito prazerosos. Grandes descobertas. Profundas
transformações. E agora tá chegando a hora de nos separarmos. Já não seremos
mais um... Mas essa não é uma carta de despedida, mas de reencontro. Tenho
certeza que essa carta marca um novo encontro nosso. Um encontro de pele, de
olhos nos olhos, de cheiro, sons... E, certamente, novas transformações.
Até daqui a
pouco,
Mamãe.
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